Paçó de Rio Frio

sábado, dezembro 22, 2007

O Foral de Paçó

Eras, Datas e Histórias
1370, M.CCC.VIII., 1408, M.CCCC.VIII.

Histórias há muitas. Porque, quem conta um conto acrescenta um ponto.
Ou omite, como no caso que abaixo descrevemos.
Datas, também. Conforme as fontes.
Ou assim parece.
Citemos, como exemplo, as Obras do Abade de Baçal.
Na recente edição, do Museu A. B. /CMB, o foral de Pallaçoyllo de Monte Carvalhaes, tem datas de 1370 (p.72, vol. III) e 1408 (p. 42, vol. II)
Na transcrição do Foral, parte final, há um erro. Que aliás já existia na edição anterior (Bragança – Tipografia Académica, 3ª ed., 1984), a partir da qual esta última é feita.
A saber, onde está M.CCC.VIII.º Deveria estar, M.CCCC.VIIIº (1408, com quatro “C”!!)

Porquê?
Porque assim está na “Transcrição do Tombo do Mosteiro de São Salvador de Castro de Avelãs 1500 -1538”, por Ana Maria Afonso e Ana Maria S. A. Rodrigues (Cascais, 2002), p. 213:

Titollo de /paaço/
[…]
sino feci factas cartas viijº die januarij. Ea m.ma cccc.ma viijº

(A Drª Ana M. Afonso é a responsável pelo Arquivo Distrital de Bragança).

Também, porque como bem escreveu o Pe. Franscisco M. Alves, no início do texto que transcreve o Foral,

Foral de Pallaçoyllo de Monte
Hoje Paçó de Outeiro no concelho de Bragança
“8 de Janeiro de 1370”

Mas afinal, 1370 ou 1408?
O Abade refere o Foral de Pallaçoyllo [Paçó] de 1370 (p.72, vol. III) e o Foral de 1408 (p.42, vol. II).
É o mesmo documento?
É. E ele sabia-o melhor do que nós. Que existiam duas eras. A Cristã e a Hispânica (utilizada na Península Ibérica).
Entre estas medeia uma diferença de 38 anos.
Isto é aliás facilmente conferível a partir das próprias Obras do Abade de Baçal, lendo a inscrição romana da data, nos diversos Forais, e a que o autor lhe apõe no início.
Se não, confira-se o que diz a Wikipédia sobre a Era Hispânica ou Era de César:
# http://pt.wikipedia.org/wiki/Era_de_César#

"A chamada Era de César ou Era Hispânica é uma variante do calendário Juliano, que começou a ser contada na Hispânia Romana a partir de 1º de janeiro de 38 a.C.
Este calendário foi usado durante mais de mil anos na Península Ibérica, primeiro pelos romanos e romanizados, depois pelos cristãos até os tempos da Reconquista, quando finalmente começou a cair em desuso. Os Catalães teriam sido os primeiros a abandoná-lo, em 1180; os últimos foram os Portugueses, em 1422, quando o rei João I de Portugal decretou a adopção oficial da Era de Cristo, ou Era Anno Domini, por meio de uma Carta Régia".


Como tal, 1370 e 1408 são a mesma data, de diferentes eras. Sendo portanto um e o mesmo Foral.
Como tal, as duas últimas edições das Obras do Abade (não sei se também as anteriores) têm esta “gralha”, a falta de um C. Escrevem M.CCC.VIII em vez de M.CCCC.VIII.
E porquê os quatro “C’s”?
Porque não M.CD.VIII., para 1408?
Na regra romana, tal qual a conhecemos, o máximo de repetição para a mesma letra (número) são três vezes.
Em conversa informal, a Arquivista e autora do livro acima referido, refere-me que à data, esse “erro” de repetição, era comum.
- Estaria então a numeração não normalizada?
- Teriam poucos estudos os “copistas” que transcreviam estes textos de lei?

Uma história, por enquanto, por esclarecer…

Imagens:

-- Monge copista - Papa São Gregório, cerca de 980 d.C., escreve um texto que os três copistas em baixo reproduzem. Kunsthistorisches Museum, Viena, Áustria.
-- Placa do Foral, no monolito erguido no Largo das Fontes, Paçó.