Paçó de Rio Frio

sábado, dezembro 15, 2007

Respostas ao Eco

O eco do evento (divulgação do Museu na Net, na Imprensa e na TV) teve algumas consequências.
Boas: o aumento do número de vistantes ao Museu.
Más: uma polémica relativa ao Foral de Paçó.
Digamos "más", entre aspas. Porque até gostamos e louvamos a polémica.
A seguir a carta de acusação de usurpação do Foral e a nossa resposta (integral). O jornal "Mensageiro de Bragança" apenas publicou uma parte truncada da nossa defesa, alegando que esta não poderia ter mais palavras do que a acusação...
Seguem as cartas.

Exmo. Senhor Director
do “Mensageiro de Bragança”
“Foi com espanto que li a notícia “Paçó de Rio Frio na Internet”, não porque ache pouco o trabalho que a Associação Promotora da Qualidade de Vida de Paçó de Rio Frio faz (facto que, aliás, acho muito meritório e necessário “para dar alguma vida” às pessoas que ainda resistem nas nossas aldeias), mas porque verifiquei que uma das últimas actividades (do dia 3 de Novembro) foi a colocação de «(…) uma placa simbólica num menir da aldeia relativo ao registo mais antigo de Paçó de Rio Frio. As obras de Abade de Baçal apontam para o foral de 8 de Janeiro de 1370, no qual a aldeia é chamada de “Pallaçoyllo de Monte de Carvalhais”. (…)», in MB.
Ora, em 1994, aquando da realização de um curso do ensino recorrente na aldeia de Palácios foi pedido ao professor de História, Carlos Prada de Oliveira, um texto sobre a história da aldeia, do qual se extrai a seguinte passagem «(…) Em 8-01-1370, o Mosteiro de S. Salvador de Castro de Avelãs outorgou foral à herdade de Pallaçoyllo do Monte de Carvalhaes, para que se povoassem os 30 casais que os monges aí possuíam (1). O território já devia estar antes povoado porque a carta diz simplesmente “vobis popullatoribus de pellaçoilllo”. O Abade de Baçal alvitra que este território deve corresponder à actual povoação de Palácio, porque a região da Lombada aparece designada em documentos da época por Lombo de Carvalhaes (2). Este facto parece-nos verosímil, porquanto, Palácios aparece mais tarde como curato da apresentação do Cabido e Miranda do Douro, o herdeiro dos bens do referido mosteiro extinto em 1545 e cujas rendas foram incorporadas na recém criada diocese de Miranda para sustento do Cabido. (…)»
(1) Arquivo Distrital de Bragança, Tombo dos Bens do Mosteiro de Castro de Avelãs em 1501; Abade de Baçal, Castro de Avelãs, Mosteiro Beneditino, Sep. De “O Instituto”, Vol. LVI, Imprensa da Universidade, Coimbra, 1909, nº 16.
(2) Abade de Baçal, Castro de Avelãs, Mosteiro Beneditino, Sep. de “O Instituto”, Vol. LVI, Imprensa da Universidade, Coimbra, 1909, p. 23.
Não tive ainda oportunidade de consultar as obras referidas, mas acho que seria interessante averiguar qual das versões é a mais credível. A confirmar-se que se trata de uma referência a Palácios, há na aldeia um grupo de pessoas interessadas em adquirir a placa relativa ao foral que a associação de Paçó de Rio Frio mandou fazer!
Sem mais, desejo as maiores felicidades à Associação promotora da Qualidade de Vida de Paçó de Rio Frio e ao jornal que V. Exa. dirige”.

António João Fernandes Afonso
Assinante do MB
e descendente de Palácios


A resposta possível, no calor do momento...
DIREITO DE RESPOSTA

Ao abrigo da Lei de Imprensa solicitamos a publicação do seguinte esclarecimento.

Ex.mo Sr. Director do Mensageiro de Bragança,
Por ser este um jornal prestigiado e prestigiante, com distribuição nacional e internacional, não podemos permitir que um vosso leitor na edição de 22 de Novembro faça afirmações não sustentadas, incorrectas e indelicadas relativas à nossa Associação, às nossas gentes e à nossa aldeia.
A recente iniciativa desta Associação, colocação de uma placa relativa ao Foral de Pallaçoyllo de Monte de Carvalhaes, com data de 8 de Janeiro de 1370, teve a participação de uma centena de pessoas, a divulgação na imprensa e rádios regionais, a primeira página da Agenda Cultural Municipal de Novembro, e ainda a cobertura da imprensa nacional, pela RTP – Rádio Televisão Portuguesa e RDP – Radiodifusão Portuguesa.
Esta iniciativa foi apenas um pequeno gesto, dentro de um conjunto mais vasto de actividades, que tiveram o apoio de várias entidades, estando presentes nesse dia. E à qual se associaram também os órgãos de informação regional e nacional.
Por estes, e por nós, estamos obrigados a responder ao que, em outras circunstâncias, nos mereceria apenas um encolher de ombros.
De facto, honra lhe seja feita, o ex.mo sr. leitor António João Fernandes Afonso teve a sensatez de referir que, pasme-se, não leu as obras que cita “Não tive ainda oportunidade consultar as obras referidas…”.
Acreditamos que não é mais um dos que buscam o protagonismo fácil, na crítica aos que fazem obra. Mas deveria ter-se documentado, antes de escrever meia dúzia de linhas de mau gosto e insultuosas.
Claro que a obra do Pe. Francisco Manuel Alves, o Abade de Baçal, são 12 volumosos livros. E, além do mais, o referido Foral está em latim. Ora, ler e entender tais escritos exige tempo, preparação e formação!
“Pallaçoyllo de Monte de Carvalhaes” corresponde a Paçó de Outeiro.
1- Além das quatro regiões em que estava dividido o território Bragançano, era-lhe comum, com Miranda do Douro, a denominada região “Lombo de Carvalhais”, cuja existência se deduz da carta foralenga dada a Paçó de Outeiro em 1408, em que se inscreve “Pallaçoyllo de Monte de Carvalhais”.
2- Numa sentença dada em Gimonde a 25 de Novembro de 1454, pelo Duque da mesma cidade, D. Afonso, vê-se que Paçó e Rio Frio, lugares do termo da Vila de Outeiro, estavam situados na região denominada “Lombo de Carvalhaes” (ver Doc. Nº 49 – pag 92 -93 – Tomo III Abade)
Pallaçoyllo de Monte de Carvalhaes (Paçó) aparece na história como “Villa”
ligada a Outeiro, Rio Frio e Paradinha, o que não acontece com Palácios.
Pelo Doc. 37 das Memórias Histórico-Arqueológicas lê-se que o Foral dado a
Pallaçoyllo de Monte de Carvalhaes, mais tarde Paçó de Outeiro, teve lugar a 8
de Janeiro de 1370.
Palácios não teve qualquer foral nessa altura, nem do Monarca nem do
Mosteiro, com esse nome.
Em 4 de Abril de 1455, foi dada em Meixedo uma sentença por D. Afonso, Conde de Barcelos, filho bastardo de D. João I, genro de D. Nuno Álvares Pereira e 1º Duque de Bragança e D. Frei Luís Eanes, abade do Mosteiro de Castro de Avelãs e os moradores de Pallaçoyllo de Monte e Rivulo Frigiolo (Paçó e Rio Frio) a propósito dos foros que estes povos de Lombo de Carvalhais do termo de Outeiro pagavam ao Mosteiro, sendo os frades condenados.
Já agora tomamos a liberdade de acrescentar mais o seguinte:
Nos tempos de D. Afonso Henriques e de D. Afonso III, a paróquia de Paçó era
conhecida por S. Vicente de Paixeõ = Sancti Vincenci di Paixom;
Consta dos livros das doações do Mosteiro Beneditino e do Livro das
Inquirições de D. Afonso III – 1258.
Em 1287 Paçó tomava o nome de Paaçoo.
A seguir Paçó passava a ser conhecido por Pallaçoyllo de Monte de
Carvalhaes – 1370.
Desde a criação do Concelho de Outeiro por D. Manuel I, em 11 de Novembro de 1514, Pallaçoyllo de Monte de Carvalhaes pertenceu a Outeiro, coisa que nunca aconteceu com Palácios.
Com a extinção do Concelho de Outeiro, por Decreto de 31 de Dezembro de 1853, Paçó passou a pertencer ao Concelho de Bragança, tal como Rio Frio.
Sempre Pallaçoyllo de Monte de Carvalhaes fez parte do agregado de “Rivo Frigido de Monte”, de acordo com um documento de 1145, altura em D. Afonso Henriques doava este agregado ao Mosteiro de Castro de Avelãs.
Resta-nos dizer mais o seguinte:
1- Pallaçoyllo de Monte de Carvalhaes foi “Villa” – unidade agrícola.
O significado de “Villa” naquela altura nada tinha a ver com o significado que hoje se lhe atribui. Essas “Villas”, na sua origem Latina, tinham a ver com a designação de herdades, quintas, granjas, numa palavra: unidades de produção agrícola.
2- Quanto à etimologia da palavra Pallaçoyllo, resta dizer que é a seguinte: o étimo é o latim. Palatiolum, diminutivo, se quisermos, de Palatiu.
3- O escritor Alberto Sampaio diz-nos também que Pallatium e Palatiolum = Paçó e Paço, eram as designações populares de “Villas”, no regímen romano.
Portanto, com se pode ver, a referida placa está correcta (ver e ler referências) e, como oferta que foi, não tem preço. Como tal não tem, ou não têm, dinheiro que a possa pagar.
Respondendo ainda à displicente ironia do sr A.J.F.A., podemos dizer que poderá mandar fazer uma imitação e a colocar onde bem entender.
O que também não se compra é o dinamismo e a iniciativa das gentes desta localidade.
Com os respeitosos cumprimentos ao ex.mo sr. Director deste jornal e sua equipa,
agradecemos a oportunidade do esclarecimento.

25 de Novembro de 2007
O Presidente da Associação Promotora da Qualidade de Vida de Paçó de Rio Frio

Amílcar Lopes António

Referências – ver e ler:
Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, por Francisco Manuel Alves, reitor de Baçal. Ed. Câmara Municipal de Bragança e Instituto Português de Museus – Museu Abade de Baçal, 2000.
(Tomo III – pág. 58; Doc nº 37; p.72; Doc nº 47, p. 84 a 86; Doc Nº 49, p.92 – 93 Tomo IV – Documento nº 166, p. 471)

E ainda:
História da Guerra Peninsular, de Soriano Simão.
Deusdado, Manuel Ferreira
História da Diocese de Bragança e Miranda, de Maria da Conceição Correia Fernandes.
Cidadão Lusitano – Livro do P. Inocêncio António de Miranda
Portugal Antigo e Moderno, de A. Pinho Leal
Mosteiro de Castanheda – Sanábria (arquivos)
Monografia das Freguesias do Concelho de Bragança, ed. Câmara Municipal.
Etc. etc.

Texto integral, enviado à redacção do “Mensageiro de Bragança”, tendo sido publicada uma versão resumida deste a 13 de Dezembro de 2007.

Agradeçemos ao Prof. Inocêncio Pereira a revisão do texto e alguma da bibliografia referida.